terça-feira, 22 de março de 2011

The Archers: O Cinema de Michael Powell e Emeric Pressburger

A Sala P. F. Gastal da Usina do Gasômetro recebe, entre os dias 25 e 27 de março, a mostra The Archers: O Cinema de Michael Powell e Emeric Pressburger, reunindo quatro filmes da cultuada dupla de diretores, admirada por diretores como Martin Scorsese, Pedro Almodóvar e Francis Ford Coppola (que incluiu trechos de um de seus filmes no recente Tetro). A mostra The Archers: O Cinema de Michael Powell e Emeric Pressburger está inserida na programação do 7º Festival de Verão do RS de Cinema Internacional e nas comemorações da Semana de Porto Alegre, e desde logo, pela sua relevância e raridade, se impõe como um dos grandes eventos cinematográficos de 2011.

Com curadoria de Liciane Mamede, a mostra The Archers: O Cinema de Michael Powell e Emeric Pressburger foi realizada pelo Centro Cultural Banco do Brasil entre dezembro de 2010 e janeiro de 2011. Na ocasião, foram apresentados todos os seus filmes. A partir de negociações com as distribuidoras, quatro das cópias em película 35mm puderam permanecer no Brasil, incluindo as versões restauradas das duas principais obras-primas da dupla, Narciso Negro (1947) e Os Sapatinhos Vermelhos (1948). O primeiro, que descreve o gradativo processo de exasperação sexual de um grupo de freiras convocadas para instalar um convento num antigo harém no Himalaia, recebeu o Oscar de melhor fotografia (para o excepcional trabalho de Jack Cardiff com o technicolor) e revelou o talento da atriz Deborah Kerr. Já o segundo, considerado o melhor filme sobre balé já realizado, foi uma clara fonte de inspiração para Darren Aranofsky em seu atual sucesso Cisne Negro.

Além destes dois títulos, serão exibidos O Espião de Preto (1939) e Eles Vão Dar o que Falar (1966). Todos os filmes serão apresentados em cópias em 35mm, com legendas eletrônicas em português, graças a uma parceria entre a Coordenação de Cinema, Vídeo e Fotografia da SMC, o 7º Festival de Verão do RS de Cinema Internacional e o Centro Cultural do Brasil. Ingressos a R$ 6,00 e R$ 3,00.


SINOPSES DOS FILMES

O Espião de Preto (Spy in Black), de Michael Powell (Reino Unido, 1939, P&B/ 35mm/ 82 minutos/ livre)

Um submarino alemão é enviado ao norte da Escócia tendo como missão afundar navios da frota britânica durante a Primeira Guerra Mundial. Porém, o contato do capitão alemão com a professora local, acaba atravancando os planos. Este foi o primeiro filme roteirizado pelo húngaro Emeric Pressburger a ser dirigido por Michael Powell.

Os Sapatinhos Vermelhos (Red Shoes), de Michael Powell e Emeric Pressburger (Reino Unido, 1948, colorido/ 35 mm/ 133 minutos/ livre)

Filme fotografado por Jack Cardiff. Uma famosa companhia de dança irá encenar a peça Os Sapatinhos Vermelhos. A protagonista, Victoria Page (Moira Shearer), se apaixona pelo compositor da peça (Marius Goring). Porém esse percalço poderá colocar o espetáculo em risco. Os Sapatinhos Vermelhos foi indicado a cinco Oscars, tendo ganhado dois: Melhor Direção de Arte e Melhor Trilha Sonora. A cena do espetáculo, com duração de 17 minutos, é considerada por muitos uma preciosidade.

Narciso Negro (Black Narcissus), de Michael Powell e Emeric Pressburber (Reino Unido, 1947, colorido/ 35 mm/ 100 minutos/ livre)

Filme fotografado por Jack Cardiff. Um grupo de freiras é enviado ao Himalaia, para tomar conta de um convento e prestar serviços à comunidade local. As freiras têm certa dificuldade para se adaptar à região, mas as coisas começam a se tornar realmente difíceis quando o sedutor senhor Dean aparece para prestar seus serviços. O filme traz Deborah Kerr em ótima atuação, que lhe rendeu o prêmio do Circulo de Críticos de Nova York naquele ano.

Eles Vão Dar o que Falar (They're a Weird Mob), de Michael Powell (Austrália e Reino Unido, 1966/ colorido/ 35 mm/ 112 minutos/ livre)

Filme roteirizado por Pressburger. Um jovem jornalista italiano vai para Sidney (Austrália) para trabalhar no jornal italiano de seu primo. Porém, ao chegar lá, descobre que ele imigrou para o Canadá deixando apenas dívidas. Sem muitas opções, o jornalista começa a aprender inglês e a pagar os débitos. Aos poucos, ele vai descobrindo os costumes de um novo país.


Abaixo, texto de Telma Schoonmaker Powell sobre a realização da mostra The Archers no Brasil.


Rumo à América Latina

Telma Schoonmaker Powell*

Quando a II Guerra Mundial acabou, Michael Powell finalmente se sentiu à vontade para deixar a Inglaterra, onde ele e Emeric Pressburger haviam feito uma série de grandes filmes, entre eles Coronel Blimp (The Life and Death of Colonel Blimp), Um Conto de Canterbury (A Canterbury Tale), Sei Onde Fica o Paraíso (I Know Where I´m Going) e Neste Mundo e no Outro (A Matter of Life and Death). Estes filmes foram realizados a partir de idéias originais e foram, na maioria das vezes, bem sucedidos comercialmente. Favorecidos pelos esforços e atenções voltados à guerra naquele momento, os archers fizeram uma obra-prima atrás da outra sem que houvesse qualquer interferência por parte da Rank Films* em seu trabalho – um período que Martin Scorsese chamou de “o melhor período de realização subversiva dentro de um estúdio em todos os tempos”. Scorsese inveja a maravilhosa liberdade artística que os archers tiveram naquela época. Finda a guerra, Michael Powell quis deixar a Europa e procurar boas histórias para seus filmes em outras partes do mundo.

Ele escolheu a América Latina como alvo. Michael e sua mulher, Frankie, visitaram México, Peru e Guatemala. Ele voltou à Inglaterra fervilhando de idéias para filmes. Em sua autobiografia, A Life in Movies, Michael escreve sobre essa experiência: “Eu estava ansioso para encontrar pessoas exóticas com histórias estupendas. Eu sempre fui fascinado pela conquista espanhola da América, e, particularmente, pela conquista do Peru. Eu havia lido tudo que por ventura tenha caído nas minhas mãos sobre os maias, astecas e incas. Foram os incas, seu misterioso império e sua total destruição pelo conquistador espanhol Pizarro que me fascinaram em particular. Eu sonhava em fazer um filme selvagem e íntimo sobre o confronto de duas crenças rivais, entre os selvagens espanhóis e os civilizados índios. E, acima de tudo, havia o mistério sobre de onde teriam vindo regras tão sofisticadas e a teoria de que haveria uma comunicação constante pelo mar entre a América do Sul e as ilhas dos mares do sul”.

Entretanto, o sonho de Michael Powell de fazer um filme na América Latina teve que esperar, porque quando ele imediatamente voltou à Inglaterra, uma outra idéia sobre um lugar distante o estava esperando: Narciso Negro (Black Narcissus). A poderosa atração exercida pela América Latina, no entanto, sempre teve forte influência na vida de Michael. Tal afirmação pode ser comprovada pela iniciativa de produzir Onde o Rio Acaba (End of the River), no mesmo ano em que filmava Narciso Negro. Mais tarde, claro, Emeric e Michael visitaram Argentina e Brasil para preparar A Batalha do Rio da Prata. Na época, eles planejaram desenvolver outras histórias que pudessem ser feitas ali, mas nunca conseguiram obter financiamento para isso. Como eu gostaria que essas histórias pudessem ter sido feitas.

Penso que ambos, Michael Powell e Emeric Pressburger, estariam muito felizes de saber que uma retrospectiva de seu trabalho será feita no Brasil neste final de 2010 e início de 2011. Agradeço a todos que fizeram este evento possível.

Londres, 10 de novembro de 2010


* Telma Schoonmaker Powell é montadora e assinou a edição de vários filmes de Martin Scorsese, entre os quais Touro Indomável, O Aviador e Os Infiltrados. Foi esposa de Michael Powell até a morte dele, em 1990.

* A Rank Films era a mais poderosa empresa de filmes britânica dos anos 1940, 1950 e 1960, atuando em áreas como produção, distribuição e exibição.


PROGRAMAÇÃO


25 de março (sexta-feira)
15:00 – O Espião de Preto
17:00 – Eles Vão Dar o que Falar
19:00 – Os Sapatinhos Vermelhos

26 de março (sábado)
15:00 – Eles Vão Dar o que Falar
17:00 – Narciso Negro
19:00 – O Espião de Preto

27 de março (domingo)
15:00 – Narciso Negro
17:00 – Os Sapatinhos Vermelhos

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