quarta-feira, 17 de junho de 2009

Riso e Melancolia Inspiram Mostra de Filmes e Exposição na Usina do Gasômetro

O RISO E A MELANCOLIA
Variantes de um amplo espectro emocional, o riso e a melancolia respondem por estados de espírito e de ânimo aparentemente opostos, porém complementares. Não obstante as diferentes acepções destes termos no curso da História, eles permanecem tão emblemáticos quanto reveladores da experiência humana.
Considerada uma doença na Grécia Antiga, a melancolia deixou de ser uma moléstia no período romântico, quando se difundiu a ideia de que os indivíduos por ela afetados estariam a experimentar algo de profundamente enriquecedor para a alma humana.


Desde o século XX, entretanto, mais precisamente a partir das teorizações de Sigmund Freud, a melancolia foi comparada ao estado de luto, sem que, contudo, fosse constatada nela uma perda real, senão uma perda narcisista ou emocional.

O riso, por seu turno, consiste na expressão física motivada por diferentes naturezas de humor, tais quais a sátira ou a ironia, que estão intimamente relacionadas ao contexto sóciocultural de onde emergem e que as enseja. Quer na filosofia, quer na psicologia, o riso se estabelece como reação aos estímulos de ordem intelectual, configurando-se em um fenômeno fundamentalmente humano. De acordo com o filósofo francês Henri Bergson, caso o mundo fosse habitado por seres totalmente desprovidos de emoções, e exclusivamente movidos pela racionalidade, ainda assim haveria o riso, porque resultante de um processo mental que decorre de julgamentos morais. De maneira inversa, em um mundo dominado exclusivamente pelas emoções, o riso não seria possível, e o excesso de sentimentos nos envolveria numa atmosfera puramente melancólica.

A temática dessa mostra - o riso e a melancolia - partiu de nosso desejo de discutir esses dois extremos do humor em relação a seus papéis na história da arte. Há alguns séculos, a melancolia tem interessado às artes com algum destaque, embora diversamente facetada dependendo do momento histórico ou artístico que a explorou. Já o riso, surpreendentemente, ganhou pequena atenção no contexto da crítica de arte, algo que vem mudando na contemporaneidade com o surgimento de importantes publicações sobre o tema, e com o resgate de alguns textos clássicos sobre o assunto, como os dos supracitados Bergson e Freud.

Por tudo isso, é com muito entusiasmo que trazemos a público a exposição O Riso e a Melancolia, uma empreitada inédita para ambos, e à qual dedicamos bastante tempo e trabalho. Não apenas somos curadores de primeira viagem, como também não temos a pretensão de exaurir a temática, mas decidimos ir adiante com essa tarefa por estarmos confiantes de que nossas escolhas - as quais incluem alguns artistas nunca antes apresentados no Brasil - serão um deleite para o público das Galerias Lunara e Iberê Camargo, bem como da Sala P. F. Gastal.
A quem soar exagerada tal afirmação, convidamos a comprová-la assistindo aos vídeos dos latino-americanos Yoshua Okon e Martín Sastre, bem como do importantíssimo artista norte-americano Paul McCarthy. Este último terá a Galeria Lunara dedicada exclusivamente à apresentação de seu vídeo Painter, o qual faz uso de certa linguagem televisiva para debochar do mundo artístico e das razões que podem levar o artista a permanecer criando. Esses três trabalhos mostram como o riso pode ser útil na construção de uma crítica social e política, ao tempo em que a reflexão por eles provocada está embebida numa inegável melancolia.


Teremos a grande honra de exibir a emblemática fotografia Saut Dans le Vide, do francês Yves Klein, sem dúvida uma das obras de arte mais importantes do século XX: um ato suicida, representado com visível deleite na expressão do artista, de braços abertos em seu salto para o vazio. Vazio também abordado por Kátia Prates de maneira sublime em sua apresentação de um céu de azul intenso, cuja extraordinária beleza beira o absurdo.
Apresentaremos ainda os comentários fotográficos do paulista Guto Lacaz, os quais revelam o saudosismo inerente à atual passagem da tecnologia analógica para a digital, porém de maneira bem-humorada.


Impossibilitados de trazer a Porto Alegre uma obra do norte-americano Jeff Koons – nome definitivo para a discussão do humor na arte contemporânea –, decidimos exibir um documentário sobre sua trajetória artística. Seus trabalhos visualmente deslumbrantes remetem à melancolia da infância perdida e ao fascínio pelo estrelato não desprovido de ironia. Esse filme será exibido ao lado de uma performance de Terence Koh, cujas relações com o mercado de arte não deixam também de ser bem humoradas, quer seja pelas cifras astronômicas alcançadas por suas desconfortáveis obras, quer pela apresentação desavergonhada do sexo e de sua intensa vida privada.

Outro destaque dentro da mostra é o norte-americano William Wegman, que embora seja um nome capital quando se trata do humor na arte contemporânea, permanece pouco conhecido no país; seus vídeos de cães Weimaraners antropomorfizados retêm a tristeza do olhar canino, causando no espectador um sorriso melancólico.
Ausente dessa mostra, o humor da arte britânica nos anos 1990 deu a tônica ao debate acerca da produção artística contemporânea, a exemplo do que já havia sido feito pelo Dadaísmo no início do século XX. A ironia, quintessência da cultura inglesa, marcou aquela década que antecede o ataque terrorista às Torres Gêmeas, aqui representado em tons saturados pelo célebre fotógrafo da agência Magnum, Thomas Hoepker, que revestiu a tragédia de 11 de setembro de 2001 com matizes daquela fina ironia.


Se ao final do século XX o humor pareceu ser a chave para um mundo carente das perspectivas históricas modernistas, o início do século XXI, após o inevitável confronto com a orquestrada tragédia de dimensões épicas em Nova Iorque, recuperou ambos os registros como complementares e essenciais à percepção dos fenômenos contemporâneos.

Bernardo José de Souza e Mariana Xavier
Curadores


Bernardo José de Souza é Coordenador de Cinema, Vídeo e Fotografia da Secretaria Municipal de Cultura da Prefeitura de Porto Alegre e professor da ESPM e FEEVALE. Especialista em fotografia e moda pelo London College of Fashion , foi colaborador das revistas Vogue, i-D e do jornal Folha de São Paulo.


Mariana Xavier é artista visual, formada em jornalismo pela UFRGS, é mestranda em Poéticas Visuais no curso de Pós-Graduação em Artes Visuais da UFRGS.

COQUETEL DE ABERTURA DA EXPOSIÇÃO DIA 26 DE JUNHO, ÀS 19H30MIN, NA GALERIA IBERÊ CAMARGO DA USINA DO GASÔMETRO

OS FILMES

De 23 de junho a 5 de julho de 2009 - Sala P. F. Gastal - Usina do Gasômetro

MOSTRA DE FILMES
Ao longo da história do cinema, não foram poucos os diretores a combinar humor e drama em seus filmes. Alguns deles, como o italiano Federico Fellini e o americano Woody Allen, justamente se tornaram célebres pela habilidade com que fazem seus personagens transitarem entre estes estados de alma contraditórios, originando diversas obras-primas. A presente mostra reúne uma série de filmes – incluindo um título de cada um dos diretores citados acima – que se diferenciam por oscilar entre o riso e a melancolia. Das experiências de Buster Keaton, o cômico que nunca ria, ao humor amargo e contemporâneo do francês Michel Gondry, passando por diretores de carreira sólida como Pedro Almodóvar e Lina Wertmüller, o público poderá conhecer ao longo de duas semanas de programação uma seleção filmes que aposta na sua inteligência e na sua capacidade de experimentar diferentes emoções. Inclusive, oferecendo-lhe a insólita possibilidade de acompanhar a extenuante maratona cinematográfica proposta pelo diretor filipino Lav Diaz em Melancolia, monumental filme com oito horas de duração, que tem mobilizado a atenção dos freqüentadores dos grandes festivais internacionais.

Filmes Programados

Os Palhaços (I Clowns), de Federico Fellini (Itália/França/Alemanha, 1970, 92 minutos) Documentário sobre o universo dos palhaços, um dos filmes menos conhecidos de Federico Fellini. Exibição em 35mm.







A Ciência do Sono (La Science des Rêves), de Michel Gondry (França/Itália, 2006, 106 minutos).
Jovem mexicano (Gael García Bernal) apaixona-
se por francesa (Charlotte Gainsbourg) em Paris, mergulhando num universo delirante. Exibição em DVD, com legendas em espanhol.



Que Fiz Eu Para Merecer Isto?!! (Qué He Hecho Yo Para Merecer Esto?!!), de Pedro Almodóvar (Espanha, 1984, 101 minutos) O cotidiano ao mesmo tempo trágico e engraçado de uma dona de casa (Carmen Maura) que vive na periferia de Madri. Exibição em 35mm.




Melancolia (Melancholia), de Lav Diaz (Filipinas, 2008, 480 minutos) Monumental drama filipino, com oito horas de duração, que tem colhido elogios no circuito de festivais internacionais. Três personagens, Alberta, Julian e Rina, tentam encontrar respostas para a falta de sentido do mundo. Duas únicas exibições, em DVD, com legendas eletrônicas em português.



Marinheiro de Encomenda (Steamboat Bill, Jr.), de Charles Reisner e Buster Keaton (EUA, 1928, 71 minutos) Uma das obras-primas de Buster Keaton, o grande cômico americano que jamais ria. Exibição em DVD.










Film, de Samuel Beckett e Alan Schneider (EUA, 1965, 20 minutos) A única experiência de Samuel Beckett no cinema, com Buster Keaton. Exibição em DVD.






A Lira do Delírio, de Walter Lima Jr. (Brasil, 1978, 102 minutos) Em um dia de carnaval, mulher envolve-se com um homem rico e ciumento, vivendo diferentes peripécias. Um clássico do cinema brasileiro, triste e alegre como uma terça-feira de carnaval, o filme traz a última atuação de Anecy Rocha no cinema. Exibição em DVD.



Pasqualino Sete Belezas (Pasqualino Settebellezze), de Lina Wertmüller (Itália, 1975, 115 minutos). Comédia de humor negro que marcou época, sobre homem que tenta sobreviver em campo de concentração. Exibição em DVD.




Poucas e Boas (Sweet and Lowdown), de Woody Allen (EUA, 1999, 95 minutos) Comédia agridoce que acompanha as aventuras de um músico de jazz nos Estados Unidos durante a década de 30. Exibição em 35mm.







The Jeff Koons Show
, de Alison Chernick (EUA, 2004, 49 minutos)
Documentário sobre o irreverente artista americano Jeff Koons. Exibição em DVD.









The Pearl is the Sun, de Terence Koh. (Alemanha, 2007, 20 minutos) Registro de performance que se inspira nas palestras de antropólogos de fins do século XIX para desenvolver um discurso em idioma ininteligível (uma mistura de alemão, chinês e inglês), que joga com os códigos culturais de diversos sub-grupos étnicos para abordar questões relativas ao gênero, à raça e ao desejo através de imagens. Exibição em DVD.

A Espera, de Fernanda Teixeira (Brasil, 2007, 15 minutos) O cotidiano de um homem solitário, que espera a morte tendo apenas o seu cão como companhia. Curta-metragem que participou da Semana da Crítica no Festival de Cannes em 2008. Exibição em 35mm.
Filme selecionado no Concurso Curta nas Telas - confira detalhes


GRADE DE HORÁRIOS
Semana de 23 a 28 de junho de 2009


Terça-feira (23 de junho)

15h – Film + Marinheiro de Encomenda (acompanha o curta A Espera)
17h – A Lira do Delírio
(acompanha o curta A Espera) - entrada franca
19h – A Espera + The Jeff Koons Show + The Pearl is the Sun


Quarta-feira (24 de junho)

15h – Os Palhaços
(acompanha o curta A Espera)
17h – Pasqualino Sete Belezas
(acompanha o curta A Espera)
19h – Que Fiz Eu Para Merecer Isto?!!
(acompanha o curta A Espera)

Quinta-feira (25 de junho)


15h – A Lira do Delírio
(acompanha o curta A Espera) - entrada franca
17h – Poucas e Boas
(acompanha o curta A Espera)
19h – A Ciência do Sono
(acompanha o curta A Espera)

Sexta-feira (26 de junho)

15h – Que Fiz Eu Para Merecer Isto?!!
(acompanha o curta A Espera)
17h – Os Palhaços
(acompanha o curta A Espera)
19h – Poucas e Boas (acompanha o curta A Espera)

Sábado (27 de junho)


15h – Pasqualino Sete Belezas
(acompanha o curta A Espera)
17h – Melancolia – 1ª parte (4 horas, com intervalo de 30 minutos) (1)


Domingo (28 de junho)

15h – A Espera + The Jeff Koons Show + The Pearl is the Sun

17h – Melancolia –2ª parte (4 horas, com intervalo de 30 minutos)


GRADE DE HORÁRIOS
Semana de 30 de junho a 5 de julho de 2009

Terça-feira (30 de junho)


15h – A Lira do Delírio
(acompanha o curta A Espera) - entrada franca
17h – Os Palhaços
(acompanha o curta A Espera)
19h – A Ciência do Sono (acompanha o curta A Espera)

Quarta-feira (1º de julho)


15h – Film + Marinheiro de Encomenda
(acompanha o curta A Espera)
17h – Que Fiz Eu Para Merecer Isto?!!
(acompanha o curta A Espera)
19h – Os Palhaços
(acompanha o curta A Espera)
Quinta-feira (2 de julho)


15h – A Ciência do Sono
(acompanha o curta A Espera)
17h – Poucas e Boas (acompanha o curta A Espera)
19h – A Espera + The Jeff Koons Show + The Pearl is the Sun

Sexta-feira (3 de julho)


15h – Pasqualino Sete Belezas
(acompanha o curta A Espera)
17h – Film + Marinheiro de Encomenda (acompanha o curta A Espera)
19h – Que Fiz Eu Para Merecer Isto?!!
(acompanha o curta A Espera)

Sábado (4 de julho)

15h – Os Palhaços
(acompanha o curta A Espera)
17h – Poucas e Boas (acompanha o curta A Espera)
19h – A Espera + The Jeff Koons Show + The Pearl is the Sun

Domingo (5 de julho)


14h – Melancolia (exibição integral)

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