quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

RAROS EXIBIDOS EM 2010

SER OU NÃO SER, de Ernst Lubitsch.
O projeto Raros da Sala P. F. Gastal apresentou na sexta-feira, 5 de fevereiro, às 19:00, a sua primeira sessão de 2010, exibindo um clássico dos anos 40, a comédia Ser ou Não Ser (To Be or Not to Be), de Ernst Lubitsch.
Para muitos críticos, trata-se da obra-prima do alemão Lubitsch (1892-1947), cujo cinema irônico e sofisticado teria atingido o seu ápice com esta demolidora sátira ao nazismo, realizada em plena Segunda Guerra Mundial.
A trama de Ser ou Não Ser é ambientada em Varsóvia, durante a ocupação alemã, e mostra uma trupe de teatro que participa de um complô dos aliados para enganar os nazistas. Carole Lombard e Jack Benny vivem o casal de atores em crise cujos embates matrimoniais são temperados por uma troca de identidades que os levará a arriscar sua pele para salvar a Polônia do jugo de Hitler. Espectadores atentos irão notar que toda a movimentada sequência final no teatro serviu de modelo para Quentin Tarantino realizar o clímax de Bastardos Inglórios. Além de Tarantino, outro dos admiradores do filme é o comediante Mel Brooks, que produziu e estrelou ao lado de sua então esposa Anne Bancroft uma refilmagem de Ser ou Não Ser em 1983, dirigida por Alan Johnson.
Uma das maiores estrelas de seu tempo, a atriz Carole Lombard morreu num trágico acidente de avião antes da estreia do filme. Casada com o galã Clark Gable, com quem formava o casal dourado de Hollywood nos anos 40, Lombard unia beleza com um talento único para a comédia.
Ser ou Não Ser (To Be or Not To Be), de Ernst Lubitsch. EUA, 1942. Com Carole Lombard, Jack Benny,
Robert Stack e Lionel Atwill. Preto e branco. Duração: 99 minutos.


SANGUE DE VIRGENS
Inserida na programação da Mostra Gosto de Sangue –Vampiros na Cinema, o Raros apresentou dia 26 de março, às 19h, um exótico filme argentino de vampiros, Sangue de Virgens, realizado no final da década de 60 pelo diretor Emílio Vieyra.
A trama de Sangue de Virgens tem início com o ataque de um vampiro à bela Ofélia, justamente no dia de seu casamento. O sonho de transformar-se numa feliz dona de casa vai por água abaixo, já que o ataque do vampiro irá transformá-la também numa criatura sedenta de sangue. Um século depois, um grupo de jovens a caminho de Bariloche em busca de diversão procura abrigo justamente na casa de Ofélia, ainda bela e cada vez mais sedenta pelo sangue de rapazes e moças atraentes.

Depois de permanecer durante anos fora de circulação, Sangue de Virgens foi redescoberto pelos fãs do gênero graças a seu lançamento em DVD, tornando-se um imediato objeto de culto entre aqueles cinéfilos atraídos por produções bizarras.

Exibição em DVD, com diálogos em espanhol, sem legendas em português. A sessão comentada pelo jornalista Thomaz Albornoz.

Sangue de Virgens (Sangre de Vírgenes), de Emílio Vieyra. (Argentina, 1967, 72 minutos). Com Ricardo Bauleo, Susana Beltrán e Gloria Pratt. Colorido, exibição em DVD.


QUANDO CHEGA A ESCURIDÃO
O projeto Raros da Sala P. F. Gastal apresentou dia  9 de abril, dentro da programação da Mostra Gosto de Sangue –Vampiros no Cinema, o elogiado filme de vampiros Quando Chega a Escuridão (Near Dark), de Kathryn Bigelow, a oscarizada diretora de Guerra ao Terror. Realizado em 1987, e até hoje inédito em DVD no mercado brasileiro, Quando Chega a Escuridão inaugura o novo horário do projeto Raros, que a pedido do público passa a ser às 20h, e não mais às 19h, como de hábito.

Quando Chega a Escuridão é uma original e enérgica atualização do tema do vampiro, dirigida com pulso firme por Bigelow, realizadora que construiu uma interessante filmografia marcada por incursões no cinema de gênero. Sem jamais mencionar a palavra “vampiro” ao longo de todo o filme, Bigelow narra o drama de um rapaz interiorano (Adrian Pasdar) que, após ser atacado por uma forasteira sedutora, começa a sentir necessidade de sangue humano. Obrigado a abandonar sua família e sem suportar a luz do sol, ele irá acompanhar a jovem e sua turma de vampiros numa sangrenta jornada pelas estradas da América profunda. Cultuado pelos fãs do gênero, o filme também é bastante elogiado pela crítica, que destaca a habilidade de Bigelow em criar uma narrativa que incorpora elementos do western e do road movie ao gênero terror.

A sessão de Quando Chega a Escuridão foi acompanhada pela exibição do curta-metragem gaúcho Quiropterofobia, de Fernando Mantelli (Brasil, 2009, 17 minutos). O curta de Mantelli tem como protagonistas um casal que é sequestrado após tomar um táxi. Levados a um cativeiro, são aterrorizados por um psicopata adepto da dieta de sangue humano.

Quando Chega a Escuridão e Quiropterofobia foram exibidos numa cópia em DVD. Sessão comentada pelo crítico de cinema Cristian Verardi. A entrada é franca.

Quando Chega a Escuridão (Near Dark), de Kathryn Bigelow (EUA, 1987, 94 minutos). Com Adrian Pasdar, Jenny Wright, Bill Paxton e Lance Henriksen.



CANIBAL HOLOCAUSTO
Na sexta-feira, 14 de maio, às 20h, inserido na mostra Maior que a Vida: A Realidade à Sombra da Ficção, o projeto Raros da Sala P. F. Gastal (Usina do Gasômetro – 3º andar) exibirá a controversa produção italiana Canibal Holocausto (Cannibal Holocaust). Realizado por Ruggero Deodato em 1979, o filme se ampara em uma narrativa original, que seria emulada décadas depois por A Bruxa de Blair (The Blair Witch Project).

O misterioso desaparecimento de quatro documentaristas americanos na Amazônia colombiana é utilizado como mote para Deodato se apropriar de um tema tabu, a antropofagia, e realizar um indigesto exercício fílmico extrapolando os limites entre realidade e ficção, num misto de aventura, horror e mockumentary, que chocou e confundiu o público na época de seu lançamento devido à sua crueza e violência.

O fato de ter sido censurado ou banido em mais de 40 países auxiliou na construção de sua fama de maldito, assim como as lendas em torno de sua produção se encarregaram de elevá-lo gradualmente à condição de filme mítico. As atrocidades cometidas em cena geraram tanta controvérsia que Deodato precisou comparecer aos tribunais italianos para responder a processos por “obscenidade”, além de ter de provar que não havia assassinado realmente os atores em frente às câmeras. Uma das cláusulas do contrato assinado pelos atores exigia que eles desaparecessem da mídia durante um ano, e esse foi um dos fatores que fortaleceu o mito de que teriam sido realmente devorados durante as filmagens. Após a estreia na Itália, em fevereiro de 1980, em carta endereçada a Deodato, o veterano diretor Sergio Leone já havia alertado: “Caro Ruggero, que filme! A segunda parte é uma obra-prima de realismo cinematográfico, mas tudo parece tão real que acho que você vai ter problemas no mundo inteiro”.

Canibal Holocausto será exibido numa cópia em DVD, com legendas em português. Após a sessão ocorrerá um debate com os críticos Cristian Verardi e Thomaz Albornoz. A entrada é franca.

VENENO PARA AS FADAS

Dia 17 de setembro, às 20h, foi a oportunidade de assistir o filme Veneno para as Fadas (Veneno Para Las Hadas /1984), de Carlos Henrique Taboada.

Um dos grandes operários do cinema mexicano, Carlos Henrique Taboada (1929-1997) dirigiu 19 filmes e roteirizou mais de 70, investindo nos mais diversos gêneros, do western ao drama, mas foi no horror e na fantasia que ele encontrou a sua voz. Suas investidas no horror gótico renderam seus trabalhos mais representativos, obras como Hasta El Viento Tiene Miedo (1968), El Libro de Piedra (1969) e Más Negro que La Noche (1975) tornaram-se filmes de culto, influenciando diretores como Guilhermo Del Toro, que costuma citar a grande importância de Taboada na concepção de seu imaginário fantástico.

Produzido em 1984, Veneno para as Fadas (penúltimo trabalho de Taboada para o cinema) nos impõe uma tétrica imersão no universo infantil. A solitária Verônica (Ana Patrícia Rojo) faz amizade com uma nova colega de classe, Flávia (Elsa Maria Gutiérrez). Entre as duas surge uma estranha relação de poder e submissão, onde Verônica convence a nova amiga de que ela não é uma criança comum, mas sim uma poderosa bruxa. A farsa proposta por Verônica vai tomando rumos trágicos, afetando drasticamente a vida das duas crianças. Uma cruel visão da infância, em que o choque entre fantasia e realidade toma rumos inesperados.
É notável a influência de Veneno Para as Fadas na concepção de O Labirinto do Fauno de Del Toro, uma das mais instigantes obras contemporâneas sobre o poder da imaginação infantil.

Veneno para as Fadas, de Carlos Henrique Taboada (Veneno Para Las Hadas /1984/ 90 min.), com Ana Patrícia Rojo e Elsa Maria Gutiérrez.

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