segunda-feira, 11 de agosto de 2008

MOSTRA DE CINEMA MARGINAL CELEBRA OS 40 ANOS DO MAIO DE 1968

A Sala P. F. Gastal (Usina do Gasômetro - 3º andar) realizou a partir do dia 1º de maio, quinta-feira, uma mostra reunindo 10 títulos clássicos do movimento conhecido como Cinema Marginal.

Intitulada Cinema Marginal: A Imaginação Contra o Poder, a mostra é a principal programação da Secretaria Municipal da Cultura para marcar os 40 anos de maio de 1968. Com curadoria de Leonardo Bomfim
, a mostra apresenta filmes realizados entre 1967 e 1970. Os títulos selecionados refletem o espírito libertário que eclodiu nos protestos estudantis na França em Maio de 1968, cuja repercussão rapidamente espalhou-se pelo mundo. A mostra, que tem o apoio da Cinemateca do MAM e da Cinemateca Brasileira, possibilitará ao público local conhecer grandes raridades da nossa cinematografia, assinadas por diretores como Ozualdo Candeias, Neville d´Almeida, Elyseu Visconti, José Agrippino de Paula e João Callegaro, entre outros. No dia 9 de maio, haverá um debate com a participação de Elyseu Visconti, diretor de Os Monstros de Babaloo, que estará conversando com o público sobre seu filme.

PROGRAMAÇÃO

A Margem, de Ozualdo Candeias (São Paulo, 1967, 16mm, preto e branco, 96 minutos). Com Mário Benvenutti, Valéria Vidal e Lucy Rangel.
Filme que é considerado o marco inicial do Cinema Marginal. A vida de um grupo de personagens pobres, habitantes das margens do rio Tietê, em São Paulo.

Viagem ao Fim do Mundo, de Fernando Cony Campos (Rio de Janeiro, 1967, 35mm, preto e branco, 90 minutos)
Com Karin Rodrigues, Annik Malvil, Talula Campos e Walte Forster.

A descoberta de uma edição de bolso de Memórias Póstumas de Brás Cubas numa banca de revistas é o ponto de partida para este filme singular, que propõe uma sofisticada reflexão sobre pobreza, misticismo, fascismo e sociedade de consumo. Na trilha sonora, clássicos do Tropicalismo, como Alegria, Alegria, Tropicália e Soy Loco Por Ti América.

Hitler 3º Mundo, de José Agrippino de Paula (São Paulo, 1968, 16mm, preto e branco, 90 minutos)
Com Jô Soares, José Ramalho, Eugênio Kusnet e Ruth Escobar.

Nunca lançado comercialmente, este mítico filme de José Agrippino de Paula (autor do romance Panamérica) permanece, após 40 anos de sua realização, uma obra resistente à qualquer classificação. Filmado clandestinamente, no auge da ditadura militar, Hitler 3º Mundo apresenta uma coleção de seqüências insólitas, como as intervenções de Jô Soares na pele de um samurai.

Jardim de Guerra, de Neville d`Almeida (Rio de Janeiro, 1968, 35mm, preto e branco, 100 minutos)
Com Joel Barcellos, Dina Sfat, Glauce Rocha e Jorge
Mautner.

Um clássico do cinema político brasileiro, mutilado pela censura da ditadura militar. Entre as palavras de ordem do filme, está a sentença “O mundo será feliz quando o último capitalista for enforcado nas tripas do último stalinista”.

Meteorango Kid, o Herói Intergaláctico, de André Luiz Oliveira (Bahia, 1969, 35mm, preto e branco, 85 minutos)
Realizado na Bahia, o filme de André Luiz Oliveira acompanha a revolta de um jovem universitário de classe média com a sociedade da época. Um giro anárquico, irreverente e muitas vezes escatológico pelas ruas de Salvador.

Caveira My Friend, de Álvaro Guimarães (Rio de Janeiro, 1970, DVD, preto e branco, 86 minutos).
Com Nonato Freira, Baby Consuelo, Sônia Dias e Manoel Costa.

Uma proposta radical de rompimento com os postulados do Cinema Novo, num filme de estrutura narrativa bastante livre. A partir da ação de um grupo de assaltantes, o diretor Álvaro Guimarães costura cenas que propõem a iconoclastia e o desbunde como formas de contestação à opressão da ditadura militar.

O Pornógrafo, de João Callegaro (São Paulo, 1970, 35mm, preto e branco, 88 minutos),
Com Stênio Garcia, Sérgio Hingst e Liana Duval.

Um editor de revistas pornográficas na linha de Carlos Zéfiro enfrenta a concorrência de similares internacionais como a Playboy. Repleto de referências pop e emulando o universo do cinema B (a exemplo de O Bandido da Luz Vermelha), O Pornógrafo foi injustamente pouco visto, embora seja um dos filmes mais engraçados e de fácil comunicação do ciclo marginal.

Perdidos e Malditos, de Geraldo Veloso (Rio de Janeiro, 1970, 35mm, preto e branco, 75 minutos)
Com Paulo Villaça, Maria Esmeralda e Dina Sfat.

Um jornalista policial investiga um crime que precisa ser abafado por envolver “gente importante”. Um filme de grande rigor formal, dominado por planos longos e elaborados.

Sagrada Família, de Sylvio Lanna (Rio de Janeiro, 1970, 16mm, preto e branco, 85 minutos)

Com Paulo César Pereio, Nelson Vaz e Wanda Maria Franqueira.

Uma família burguesa abandona o conforto da cidade e viaja para o interior. No meio do mato, seus membros perdem a noção de classe e experimentam a barbárie. Filme-irmão de Bang Bang, de Andrea Tonnacci, de quem Sylvio Lana era sócio. Ambos os filmes têm várias semelhanças formais, além de contarem com a mesma equipe e ator principal (Paulo César Pereio), tendo sido rodados um após o outro.

Os Monstros de Babaloo, de Elyseu Visconti (Rio de Janeiro, 1970, DVD, preto e branco, 120 minutos). Com Wilza Carla, Zezé Macedo, Helena Ignez e Betty Faria.

Uma demolidora crítica à vulgaridade da classe média brasileira durante os anos do “milagre econômico”. Considerado um precursor do cinema debochado de John Waters, o filme de Elyseu Visconti tem como destaque a presença das atrizes Wilza Carla e Zezé Macedo, que surgem na tela como uma versão tropical da dupla O Gordo e o Magro.


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